A mensagem do silêncio 

Ando pela cidade e tudo me apela ao silêncio: peões circulam cabisbaixos por passeios minguados que até sobram, ao lado da escassez de viaturas caladas e sem rumo; empregados, cansados da inatividade, escondem-se por detrás de balcões desertos enquanto os sinos da Matriz badalam toques envelhecidos. As horas arrastam-se, dormentes, saudosas do bulício de velhos tempos...

A “cidade cinzenta” de Dias de Melo regressou aos anos sessenta e, não fossem os cartazes políticos amarrotados e amarelecidos, poder-se-ia pensar que, aqui, o tempo morreu.

Hoje é dia de reflexão, de meditação, de silêncio. Não é permitida propaganda política, se bem que as imagens dos cartazes valham mais que mil palavras, repetidas sempre que um olhar as fixa.

Prefiro o silêncio da cidade, às falas e discursos medíocres, desconexos, quezilentos, autoritários, afectados, preconceituosos, arrogantes. Contra aqueles que se deleitam em proferir dislates, conversas e discursos enfatuados que perturbam a discrição, a verdade e o senso comum, encontrei uma série de pensamentos, conselhos ou ditames que originam uma séria reflexão:

           "Apenas o silêncio é grande, tudo o mais é debilidade." (Vigny)
            "Calar-se é a única sabedoria." (Luc Brabant)
            "Arrependo-me muitas vezes de ter falado, nunca de me ter calado." (Sirio)
            "A palavra é tempo, o silêncio é eternidade." (Maeterlinck)
            “Os desgostos da vida ensinam a arte do silêncio." (Seneca)
            "Fala se tens palavras mais fortes do que o silêncio, ou então guarda silêncio." (Eurípedes)
            "O silêncio é um amigo que nunca trai." (Confucio)
            "O silêncio é o elemento no qual se formam as grandes coisas." (Maeterlinck)
            "O mais corrosivo de todos os ácidos é o silêncio." (Frangias)
            "O melhor uso que se pode fazer da palavra é calar-se." (Chuang Tse)
            "O que se faz de grande, faz-se em silêncio." (Erik Geiger)
            "Felizes os que não falam; porque se entendem. (Mariano Larra)
            "Um tolo que não diz palavra não se distingue de um sábio que se cala." (Molière)
            "O silêncio é a maior sabedoria do homem." (Pindaro)
            "Não há nada que valha a dignidade do silêncio." (Júlio Dantas)
            "Os que se calam dizem mais coisas do que aqueles que estão sempre a falar." (O.Mirbeau)
            "O silêncio deles é uma eloquente afirmação." (Cícero)
            "Da árvore do silêncio pende seu fruto - a paz." (Schopenhauer)
            "Se os homens tivessem no silêncio a mesma capacidade que têm no falar, o mundo seria muito mais feliz." (Espinoza)
            "As grandes verdades só se comunicam através do silêncio." (Paul Claudel)
            "O silêncio é um dos argumentos mais difíceis de refutar." (J.Billings)
            "É melhor ser rei do teu silêncio do que escravo das tuas palavras." (Shakespeare).
            "E eu que ouvi o que não dizias, / apaixonei-me por ti porque calavas." (Stecchetti)

            Poderia ter iniciado estas citações por textos bíblicos com mais de quatro mil anos. Todos eles revelam a mesma filosofia de vida:

            "O homem inteligente cala-se." (Prov.11,12)
            "Passa por inteligente aquele que fecha os lábios." (Prov.17,28)
            "Se ao menos calásseis, tomar-vos-iam por sábios." (Jó, 13-5)
            "O silêncio cura todos os aborrecimentos." (textos judaicos).

Como “o silêncio é de ouro” e “o silêncio também fala”, é vulgar pedir-se silêncio para  homenagear alguém que partiu, ou escutar o som do mar, da chuva, do vento, das árvores, dos pássaros...da música: “Silêncio vai-se cantar o fado”.

Quando em 1984 a autora e intérprete Maria Guinod cantava: “às vezes é no meio do silêncio / que descubro as palavras por dizer (...) que descubro afinal p'ra onde vou”, evocava em “Silêncio e tanta gente” as virtudes de uma boa prática que é uma terapia excelente para as interrogações e tormentas que nos afligem.    

Neste sábado de reflexão, sugiro que, tendo como fundo o tema “Il Silenzio”, interiorize este poema de Eugénio de Andrade:

            "O silêncio é a minha maior tentação.
            As palavras, esse vício ocidental, estão gastas, envelhecidas, envilecidas.
            Fatigam, exasperam. E mentem, separam, ferem.
            Também apaziguam, é certo, mas é tão raro!
            Por cada palavra que chega até nós, ainda quente das entranhas do ser,
            quanta baba nos escorre em cima a fingir de música suprema!
            A plenitude do silêncio só os orientais a conhecem."

Fonte:http://www.citador.pt/frases/citacoes/t/silencio

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